sexta-feira, 5 de junho de 2009

A cultura da prostituição

Pobrezinhas, essas profissionais do sexo sempre são tão mal tratadas, vítimas de paralelismos absurdos, como o título deste texto, por exemplo. Mas não dá para observar os hábitos brasileiros e pensar outra coisa. Do micro ao macro, se olharmos bem, veremos que todos esperam, em camas de luxo ou esteiras enxovalhadas, o “cliente” abastado que virá nos tirar da nossa miséria oculta.

O estado brasileiro, representado pela camada mais leviana da sociedade (os políticos), já nos dá um bom exemplo desse nosso comportamento meretriz. Nos discursos dos que gerem a nação raramente aparece a expressão — Vamos construir em conjunto —; em geral, o que se busca é atrair investimentos (clientes ricos), chamar atenção de possíveis usuários das facilidades obscenas de países emergentes, para que venham desfrutar dos nossos prazeres fáceis, com altas taxas de juros, e total preservação da saúde monetária do cliente com preservativos sociais como o trabalho do povo a baixíssimo custo, ou o imoral protecionismo estatal aos investimentos estrangeiros; enquanto isso, a nação não tem garantido nem o pão de cada dia.

Um dos grandes problemas de se viver em um prostíbulo gigantesco (pois o Brasil é um país continental) é o fato de a prática da venda da dignidade tornar-se algo comum; às vezes vira até a regra. É possível ver no dia-a-dia as pessoas se vangloriando por ter encontrado um “caso” abastado, um parceiro ou parceira que lhe pague as contas. Quando isso acontece, os amigos, os pais e até mesmo os professores comemoram; todos dizem: Oh, fulano é de sorte, conseguiu um “partidão”, saiu da miséria. Até sai da miséria material, mas cai na miséria moral.

O que me intriga é a questão: será que neste país ninguém mais pensa de forma “careta”, do tipo: vou morrer, mas morrerei com honra; ou vou a pé, mas irei para o destino que eu escolher?... Acho que, se existirem pessoas assim, essas estão escondidas, com vergonha. Afinal, a palavra de ordem atual é venda-se, não importa se cara ou barato, mas venda-se. Então, provavelmente para os que não conseguem se ver estampados em vitrines dessa imensa casa de baixo meretrício, com uma cifra ao pescoço, certamente o melhor é se esconder mesmo. Vai que, nessa zona toda que virou o país, ao transitar livremente em meio a cafetões e prostituídos, alguém lhe confunde e lhe dá uma apalpadela na bunda; e se você reagir, pode ser preso e condenado por atrapalhar negócios de interesse nacional.